A priori é fascinante perceber e compreender que ao acolher os sentimentos, culpas e angústias trazidas pelos dependentes, torna-se proporcionalmente possível abrir margem para que saiam desta posição marginalizada em primeiro plano, se posicionando então como portadores de uma “doença”, dando legitimidade ao sofrimento, bem como a patologia.
A Síndrome de Dependência Química é uma doença física, mental e emocional crônica, progressiva podendo ser fatal, caso não seja detida a sua progressão, levando o portador à morte prematura, à prisão e /ou à loucura permanente.
E, ao perceber que desta maneira os “drogaditos” tornam –se pacientes que conseguem melhor compreender as razões orgânicas de sua dependência, e como isto está diretamente ligado às respostas emocionais, aflora a motivação para busca do tratamento farmacológico/psiquiátrico.
Quando falamos em dependência química, não devemos nos esquecer que a nossa sociedade está atrelada de uma maneira geral, a todos os tipos de drogas, lícitas e ilícitas.
No dia-a-dia na clínica, percebo que a dependência química traz consigo uma gama infinita de conflitos e sofrimentos tanto para o dependente como também para o núcleo familiar, tornando-os co-dependentes, isto porque a dependência se dá em diversos âmbitos, passando de uma dependência emocional (com seus aspectos e estruturas psicológicas), bem como pela dependência orgânica (reações químicas no sistema nervoso central).
É uma montanha russa de sensações e emoções para o paciente, passando por vários sentimentos, desde pequenas alegrias, grandes euforias, tristeza aparentemente insignificante, melancolia, apatia, podendo levar até uma profunda depressão.
Embora seja um tema muito atual, é difícil a sua abordagem, por ser dolorido de se tratar, então se torna imprescindível enfatizar de que há tratamento, e que há solução. Mas para que ocorra uma melhora efetiva e legítima no processo de desvincilhamento da droga, é necessário que o tratamento seja realizado de uma maneira ampla e multidisciplinar, fazendo com que o paciente entenda este processo.
Digo sempre aos meus pacientes: “Pensem quando precisam calibrar os pneus de um carro. Isto é feito nos quatro pneus conjuntamente, pois caso contrário o carro ficará instável, não atingindo êxito em seu propósito.”.
O objetivo maior deste texto segue o mesmo princípio dos objetivos da ação terapêutica no tratamento do dependente químico: o primeiro e mais importante passo é tirá-lo de uma condição marginalizada e devolvê-lo à sua dimensão humana, partindo da dor e do sofrimento para a esperança de uma verdadeira libertação de seu vício.
Nenhum comentário:
Postar um comentário