sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Dependente Químico – um outro olhar




Por Deborah Cozachevici de Jesus (CRP 06/99089)
Psicóloga da Freixo Clínica


Falar sobre dependência química é algo muito delicado, pois envolve inúmeras facetas, estereótipos e principalmente o preconceito. Porém, mergulho nesse universo tão vasto e complexo, por algumas percepções durante a prática clínica.

A priori é fascinante perceber e compreender que ao acolher os sentimentos, culpas e angústias trazidas pelos dependentes, torna-se proporcionalmente possível abrir margem para que saiam desta posição marginalizada em primeiro plano, se posicionando então como portadores de uma “doença”, dando legitimidade ao sofrimento, bem como a patologia.

A Síndrome de Dependência Química é uma doença física, mental e emocional crônica, progressiva podendo ser fatal, caso não seja detida a sua progressão, levando o portador à morte prematura, à prisão e /ou à loucura permanente.

E, ao perceber que desta maneira os “drogaditos” tornam –se pacientes que conseguem melhor compreender as razões orgânicas de sua dependência, e como isto está diretamente ligado às respostas emocionais, aflora a motivação para busca do tratamento farmacológico/psiquiátrico.

Quando falamos em dependência química, não devemos nos esquecer que a nossa sociedade está atrelada de uma maneira geral, a todos os tipos de drogas, lícitas e ilícitas.

No dia-a-dia na clínica, percebo que a dependência química traz consigo uma gama infinita de conflitos e sofrimentos tanto para o dependente como também para o núcleo familiar, tornando-os co-dependentes, isto porque a dependência se dá em diversos âmbitos, passando de uma dependência emocional (com seus aspectos e estruturas psicológicas), bem como pela dependência orgânica (reações químicas no sistema nervoso central).

É uma montanha russa de sensações e emoções para o paciente, passando por vários sentimentos, desde pequenas alegrias, grandes euforias, tristeza aparentemente insignificante, melancolia, apatia, podendo levar até uma profunda depressão.

Embora seja um tema muito atual, é difícil a sua abordagem, por ser dolorido de se tratar, então se torna imprescindível enfatizar de que há tratamento, e que há solução. Mas para que ocorra uma melhora efetiva e legítima no processo de desvincilhamento da droga, é necessário que o tratamento seja realizado de uma maneira ampla e multidisciplinar, fazendo com que o paciente entenda este processo.

Digo sempre aos meus pacientes: “Pensem quando precisam calibrar os pneus de um carro. Isto é feito nos quatro pneus conjuntamente, pois caso contrário o carro ficará instável, não atingindo êxito em seu propósito.”.

O objetivo maior deste texto segue o mesmo princípio dos objetivos da ação terapêutica no tratamento do dependente químico: o primeiro e mais importante passo é tirá-lo de uma condição marginalizada e devolvê-lo à sua dimensão humana, partindo da dor e do sofrimento para a esperança de uma verdadeira libertação de seu vício.

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