quarta-feira, 20 de março de 2013

Distúrbio de Aprendizado e Dificuldade escolar, igual ou diferente?


Atualmente em Clínicas e Consultórios Multidisciplinares houve um aumento considerável na demanda de avaliação cuja queixa inicial trata-se de distúrbio de aprendizado.

Tal fenômeno se deve a muitos fatores: o avanço e o surgimento de algumas linhas de pesquisas como neurociência, neuropsicologia, neuropsiquiatria, maior acesso às informações, como a mídia, internet, redes sociais, a amplitude da visão e atuação do professor no processo de aprendizado, bem como de sua formação, e, não posso deixar de destacar, o aumento das expectativas de pais em relação a ingresso de seus filhos em escolas e universidades de renome ou de tradição.

Mas para reconhecer, encaminhar, tratar ou cuidar destes indivíduos e na minha visão, “pequeninos e grandinhos” que sofrem sem diagnóstico e vivem  cercados de muito rótulo e pouca compreensão, é necessário que todos tenhamos claro que há diferença entre Distúrbio de Aprendizado e Dificuldade de Aprendizado.

O termo Distúrbio de Aprendizado tem sido utilizado por nós profissionais da saúde e da educação  de forma indiscriminada, como sinônimo para designar o aluno que não está acompanhando o processo de aprendizado ou não está mantendo rendimento a contento dos pais e da própria política de avaliação e aprovação da escola.

Há uma grande diferença entre dificuldade de aprendizado e distúrbio de aprendizado. Embora não tenhamos uma única definição, há uma concordância da denominação em alguns aspectos.

Primeiramente se faz necessário contextualizar a palavra Distúrbio: no dicionário, entre outros, refere-se à anomalia funcional de um órgão ou de um sistema, transtorno, ato ou efeito de transtornar, desarranjo. Já pela linguagem médica os termos acima têm sido utilizados para expressar uma alteração da normalidade, seja de natureza estrutural, funcional ou comportamental.

Definimos então Distúrbio de Aprendizado como um alteração da “normalidade” dos mecanismos que envolvem este processo, cuja desordem é devida a presença de um componente neurológico, resultante de disfunções do sistema nervoso central, neuroquímico, neuropsicológico, inclusive patogênico, impedindo seu desempenho no processo de aprender. Assim conclui-se que os distúrbios são intrínsecos e presumivelmente se devem a uma disfunção, não sendo resultantes de condições deficientes ou influências ambientais.

Traduzindo, o indivíduo que apresenta Distúrbio de Aprendizado tem um componente orgânico envolvido, ele não é  “culpado” por não aprender. Tenho uma frase que eu, particularmente, uso na Clínica aos pais e profissionais: “não espere do aluno aquilo que verdadeiramente ele não tem para oferecer”, um Distúrbio de Aprendizado ele é, e será sempre Distúrbio de Aprendizado. Aos 06/07 anos torna-se mais evidente por conta do processo de alfabetização, mas já existia e irá existir durante toda a vida, aos 12 anos, aos 30, aos 60 anos. O que é possível é adaptar o indivíduo a conviver ou buscar mecanismo para ser mais eficiente no cotidiano.

Já na Dificuldade de Aprendizado se trata de um processo que encontra um impedimento ou obstáculo de causa não orgânica, podendo ser revertido após a compreensão, entendimento e cuidado desta causa. Destaco aqui, e ressalvo, crianças que possuem Dificuldade de Aprendizado não têm dificuldade porque não querem aprender. Eu pergunto: será que alguém tem o prazer de ser estigmatizado, “perseguido”, ser destacado como diferente do grupo de forma negativa? Há casos em que a criança realmente quer ter atenção, mas se trata de um aspecto emocional onde o reforço positivo é ter atenção.

Assim, existe algum componente que pode ser, emocional (separação dos pais, luto, alcoolismo de um membro), ambiental (mudança de casa, escola), físico e social (classe social, grau de envolvimento dos pais nas obrigações e compromissos escolar, deficiência física) poderiam ser uma das causas.

E, tanto a dificuldade de aprendizado como distúrbio de aprendizado, corroboram para alteração de comportamento, estas crianças se tornam agressivas, desobedientes, anti-sociais, depressivas, tumultuando os diversos ambientes que convivem.

Concluindo, Distúrbio de Aprendizado ou Dificuldade de Aprendizado ambos causam grande impacto na vida do indivíduo e inspiram cuidados, devendo ser identificados pelos pais e pela escola, possibilitando a devida intervenção, minimizando prejuízos.

A escola é nossa grande parceira neste processo, pois deve ter seu Staff preparado para em ambos os casos analisar quando se deve encaminhar para um profissional ou quando este pode ser resolvido no próprio ambiente escolar.Encaminhar a criança não significa que a escola fracassou, ao contrário, esta promovendo a tríade aluno + escola + profissional de saúde = eficiência escolar.
Este é um tema vasto e ficaria por horas escrevendo e dissertando sobre assunto. Obviamente não esgoto meu escrito aqui, mas deixo um apelo aos pais e as escolas: “o tempo não volta, sobretudo o tempo funcional das fases de desenvolvimento infantil”. Portanto, na dúvida encaminhe ou procure um profissional, ninguém peca por cuidar do Ser Humano.

Elaine Soares Queiroz
Psicóloga Clínica – CRP 06/63511-0

Os Desafios da Paternidade



Sabemos que não há receita para criarmos e cuidarmos de filhos. Todos somos diferentes, e saber lidar com estas diferenças pode ser um bom caminho para compreender e sermos mais assertivos na criação de filhos.

Os pais podem entender melhor os próprios filhos aprendendo a se relacionar com eles, ou seja, falar a linguagem deles. É fundamental que os pais tenham consciência de que são os principais e insubstituíveis educadores de seu filho.

Para entender esta “linguagem”, é necessário compreender as fases que eles se encontram e as suas necessidades.

Por isto, abaixo listei algumas informações que acho importante e que poderão ajudá-los a refletir e por em prática nesta jornada da paternidade: 

- A criança necessita de estímulos para aprender e internalizar os valores ( regras), bem como para auxiliar no seu desenvolvimento;

- Quando se tem mais de um filho, é importante entender que eles são diferentes e a forma de comunicar e educar também deverá ser diferente. O amor e afeto é que devem ser igual;

A criança é regida pela vontade de brincar, fazer, e junto com a brincadeira entram os valores;

- Içami Tiba, em seu livro: Quem Ama, Educa, nos orienta a dar 05 passos para o atendimento integral da criança:

1 – PARAR: Sempre que possível, pare e dê atenção total á criança. Se não pode naquele momento, faça- o depois, mas não se esqueça de PARAR.

2 – OUVIR: Olhe nos olhos dela e ouça. Você ajudará a aprender a se expressar;

3 – OLHAR: Olhe verdadeiramente para ela;

4 – PENSAR: Quando você ouve e olha, você pensará na melhor forma de responder á ela;

5 – AGIR- Tenha atitudes claras, transparentes e objetivas. Se assegure de que realmente saciou a vontade da criança ou que a criança compreendeu porque agiu daquela forma;


AUTO-ESTIMA X FELICIDADE

Se você deseja ver o seu filho feliz, alimente a auto-estima dele, pois a auto-estima é a base da felicidade.

- Comece elogiando-o e valorizando os comportamentos positivos;

- A noção de segurança de seu filho vem do seu amor por ele, mas muito mais do amor que ele capta entre você e seu cônjuge;

- Em caso de separação, a consciência e a presença do amor de pai e mãe também ajudará no desenvolvimento da auto-estima da criança;

- A auto-estima ajudará o seu filho a tomar decisões importantes e mais assertivas no futuro.


PAIS!! NÃO CAIAM NAS SUAS PRÓPRIAS ARMADILHAS!

Muitos pais projetam nos filhos os seus sonhos, seus ideais, suas neuroses e ao invés de criar filhos felizes e saudáveis, criam filhos doentes e inseguros. Esta é a primeira armadilha!

Os filhos precisam ser cobrados e protegidos de acordo com as suas necessidades e capacidade. Ajude - o a descobrir do que gosta, oriente-o como pode fazer, não faça por ele. Mostre que errar faz parte da aprendizagem. Você também erra! Respeite a individualidade da criança.
Importante: os pais devem deixar claro para os filhos,desde a mais tenra idade, que eles (os pais) também são seres falhos. Assim sendo, ao errar, desculpar-se com o filho pelo erro cometido e exemplificar que existia possibilidade de agir de  outras  formas, contextualizando a realidade. Se os filhos convivem naturalmente com essa realidade não sofrem profundas decepções (principalmente na adolescência) diante de erros cometidos pelos pais.
 
A segunda armadilha também pode estar na mãe ou pai super protetor– pais super protetores não deixam seus filhos "caírem", errarem, tentam protegê-los de tudo. Só os filhos têm razão, entram em defesa deste, muitas vezes sem entender o contexto da situação.

Esta criança terá uma tendência a ter dificuldades, não sendo capaz de tomar iniciativas e decisões em sua vida, como estudar, persistir nas lições mais complexas, ajudar outras pessoas. Irá sempre “se esconder” atrás de alguém quando faz algo errado.

Permitir que a criança sofra as conseqüências de seus erros é saúde para o desenvolvimento da personalidade de seu filho. Ele saberá ouvir não, sem se irar ou buscar em coisas ilícitas ( drogas, delinqüências, etc) a compensação da sua frustração.

Ações corretivas e postura responsabilizadora são importantes para  não cair na armadilha da PERMISSIVIDADE e IRRESPONSABILIDADE.

Pais cobradores e/ou repressivos podem estar cavando a armadilha de ter um filho extremamente crítico e intolerante para com os seus próprios erros e erros dos outros.

Procure estimular as habilidades e talentos da criança conforme a sua capacidade.

Cada vez mais cresce o número de mães que trabalham fora e possuem tripla jornada. A mãe se sente culpada pela ausência e acaba permitindo comportamentos inadequados da criança, não integrando na criança o verdadeiro papel da mãe, cuidar, educar e amar.

Não é possível exigir o mesmo de uma mulher que tem oportunidade de cuidar da casa e filhos período integral.

A mãe que trabalha deve criar filhos mais independentes e cooperativos. Não deve fazer por ele. É importante o apoio do pai e marido, bem como estimular a cooperação de todos em casa.

O ideal, para não cair nesta armadilha é se disciplinar; disciplinar os filhos e marido para que todos façam parte das tarefas da casa. Depois dê um tempo com qualidade para participar da vida da criança, sempre atenta a necessidade dela, mostrando amor e interesse.

Geralmente a mãe tolera mais alguns comportamentos da criança. “É importante obedecer e respeitar os seus próprios ‘NÃOS”. Proibir e prometer algo que realmente possa sustentar.

Sejam determinados na sua postura educadora! Faça da paternidade um caminho de crescimento pessoal. Erros e acertos fazem parte.

Identificar as armadilhas ajuda a caminhar de forma mais segura e confortável.

Não desista!! Aproveite os erros, use a criatividade consciente, leia, reflita e busque o melhor para o seu filho. Se necessário, busque ajuda de um profissional. Com certeza o resultado mostrará que valeu a pena não desistir.

Boa sorte!!! 

Autora: Tatiane Oliveira – Psicóloga Clínica
CRP 06/83768

Bibliografia

Quem Ama, Educa – Içami Tiba – Ed. Gente
40 princípios na formação da Criança – Paul Lewis – Ed. Vida

Relações Familiares e Dificuldades Psicológicas: Há Culpados?


Quando algum membro da família passa por dificuldades psicológicas/emocionais, a tendência do senso comum – que nem sempre é sinônimo de bom senso – é estar sempre a postos para apontar um culpado, sobretudo quando a pessoa acometida por alguma dificuldade psicológica é uma criança.

Nós, psicólogos, frequentemente encontramos, em nossa prática clínica, pais preocupados, inseguros, constrangidos ou “na defensiva” devido à culpa imputada a eles por parentes, vizinhos, professores e até por eles próprios!

No imaginário coletivo há a ideia equivocada de que a Psicologia sempre culpa os pais pelos conflitos psicológicos dos filhos. Muitas vezes esse mito acaba sendo reforçado pelos próprios psicólogos, quando estes não têm o tato e a sensibilidade suficientes para orientar os pais a se posicionarem na complexa rede de afetos que estão envolvidos nas relações familiares.

Por isso, devido a essa complexidade de fatores em jogo, proponho que não pensemos mais em “culpa”. Troquemos essa palavra tão cheia de significados e conotações negativas por outra, muito mais libertadora, construtiva, positiva e realista: “responsabilidade”.

Nas relações familiares, ninguém é culpado de nada. Em se tratando do ambiente familiar, somos todos co-responsáveis pela saúde mental uns dos outros.

Como se pode perceber, responsabilidade é muito diferente de culpa. Esta última aprisiona, enquanto a primeira liberta.

E por que liberta?

Porque a responsabilidade, ao mesmo tempo em que evoca a participação de todos os familiares no sofrimento psicológico da criança, dá a cada membro da família, sobretudo à criança considerada “problemática”, o poder e a oportunidade de reverter a situação.

E como isso se dá?

Ora, é simples. Pense comigo: se eu sou o responsável por uma determinada situação estar ruim, isso significa que ela está sob a minha influência direta ou indireta, não é?

Se a situação está sob a minha influência, então automaticamente ela está nas minhas mãos, certo?

Logo, sou eu que tenho o poder alterá-la e modificá-la para melhor. Tem como uma notícia dessas não ser libertadora?

Quer sejamos o paciente, quer sejamos um familiar, basta que tenhamos a humildade e a coragem de analisar a nós mesmos com a maior honestidade possível e nos fazermos a seguinte pergunta: “como eu posso melhorar isso?”

Claro que responder a uma pergunta dessas nem sempre é tarefa fácil. É para isso que nós, os psicólogos, existimos: embora não tenhamos respostas prontas, estamos aqui muito mais para ajudar nessa busca do que para curar alguma “doença”.

Paulo Becare Henrique
CRP - 06/70260