segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Adoção

O tema da adoção é vasto ao abordá-lo esbarramos em outros temas não menos complexo que é a formação da identidade parental do casal.
Muitas vezes o interessado busca a adoção, como sendo a possibilidade de ampliação do seio familiar ,quase sempre pela impossibilidade de procriação ou mesmo tendo decidido não gerar um filho biológico, escolham a adoção como um caminho possível da paternidade e da maternidade.
Embora, hoje em dia, as adoções possam ser efetivadas por casais com filhos e por pessoas solteiras, a maior procura surge entre casais, que por alguma razão não conseguiram gerar filhos biológicos.

 A adoção tem como finalidade responder as necessidades da criança e dos pais, permitindo que ela encontre uma nova família, um ambiente afetivo satisfatório e ao mesmo tempo formativo. Por sua vez, a adoção, representa uma possibilidade para pais que não podem ter filhos e que desta maneira têm a possibilidade de exercer este papel.
O período de gestação oferece uma oportunidade para o casal ir se preparando para ter uma nova identidade, que é a de ser chamado de pai e mãe.

Entretanto, na adoção está condição é muito diferente, por demandar um processo de identificação com os nossos atributos, sem muito tempo de aquecimento para esta etapa de vida.
O casal que adota passa a ser nomeado como “pai e mãe”, uma nova identidade é criada para este casal, e é através desta nomeação que estes serão conhecidos pelos seus filhos.

Segundo a psicanalista Polity (2001, p 29), quando um casal decide adotar uma criança, muitas modificações acontecem na vida psíquica de cada um. Sobretudo na relação entre ambos.

Freqüentemente a adoção está associada a situações geradoras de conflitos ou dificuldades não apenas pelo senso comum, mas ás vezes até por profissionais da área da saúde.

Apesar do tema ser tão antigo e estar presente ao longo da história da humanidade por exemplo, o caso de Hércules, esta constituição familiar ainda continua , envolta em preconceito e discriminação.

A identidade não vem pronta e sim através de uma construção contínua, sendo assim, se torna passível, de ser revisada e redefinida numa proposta terapêutica.

Sempre existiram e sempre existirão mães que, por inúmeras razões, abandonam ou entregam seus filhos a pessoas que têm um grande desejo de ter filhos e, pessoas que não querem, ou não podem ter ou criar seus filhos.

Dentre as pessoas que têm este desejo de ter filhos, uma parte significativa não pode tê-los biologicamente e dentre todas as crianças existem muitas que ficam sem pais naturais.

Em conseqüência disso, alternativas foram elaboradas por várias organizações para que outro tipo de relações familiares, que não necessariamente as biológicas existissem, tendo como objetivo principal ou se deveria ter o de proteger a criança, embora a filosofia “do melhor interesse para criança” tenha origens recentes em todo o mundo.

No passado a adoção tinha somente o objetivo de ser um instrumento para suprir as necessidades de casais inférteis ou então como um meio para dar uma família para crianças abandonadas.

Esta forma de adoção era conhecida como “adoção clássica” desse modo a adoção vem somente atender aos pais que desejavam fazer sua inscrição na história, ou seja, de escapar da finitude e, de criar suas próprias raízes, para estes casais o objetivo na maioria das vezes era de uma certa maneira a de manter sua própria sobrevivência.

A falta de parentesco consangüíneo não significa falta de amor, pois na maioria das vezes o amor é até sem limites.

Para Chaves (1983, p. 4), que escreveu seu livro antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a adoção é “ato solene” pela qual obedecidos os requisitos da lei, alguém estabelece, geralmente, com um estranho um vínculo de paternidade e filiação legitima de efeitos limitados, e sem total desligamento do adotando da sua família de sangue.

O sobrenome é a indicação e o reconhecimento social de que o indivíduo pertence a uma família. O nome é dado, mais o sobrenome é transmitido.

A adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente possui abrangência clara de finalidade voltada para os interesses do adotando, juridicamente alguns a consideram contrato, outros ato solene, ou então filiação criada pela Lei ou ainda, instituto de ordem pública.

Para Gibert 1977, ( apud Weber, 2001 p.60 ) é preciso discernir entre o desejo de ter um filho e a decisão de cuidar dele: alguém pode, por exemplo, desejar um filho, mas decidir não tê-lo. Os desejos, segundo o autor, são instâncias transmitidas psiquicamente e podem não consumar-se, ademais pode-se desejar uma coisa e decidir-se por outra. Entretanto, não aceitar faz parte de um processo psíquico e não biológico. A decisão de tê-lo não se constitui necessariamente a partir de uma determinação instintiva, mas remete a uma alternativa atravessada por variáveis psíquicas e sociais, não é o mesmo que saber cuidar do filho, como vem fazendo as mulheres ao longo dos anos.

Saber cuidar, não significa querer fazê-lo.

Podemos perceber que existe um número expressivo de crianças abandonadas, maltratadas, espancadas e até mortas por suas famílias, mostrando que o vínculo biológico não garante amor e proteção. Mas que por outro lado, observava-se famílias com filhos adotivos e homens e mulheres que partiram para novos casamentos e acolhem as crianças de seus companheiros e companheiras com profundo amor. Isso deixa claro que o amor a uma criança não depende necessariamente do vínculo biológico.

Não podemos negar aqui que existe o amor materno, sentimento adquirido que se estabelece pelo contato e disposição da pessoa com amor à criança, amor só de mãe tem certamente um fundo de verdade. Já que o amor de mãe costuma ser mais estável, confiável, puro e supera melhor as dificuldades, mais do que o amor entre um homem e uma mulher.

A adoção dá o direito, tanto para os pais quanto para a criança, de ter as suas necessidades respondidas, pois, traz a possibilidade para que a crianças encontrem uma família que possa lhe oferecer um ambiente afetivo que satisfaça o seu desenvolvimento e aos pais a oportunidade de exercer seu papel.

Os pais que desejam adotar, vivem um momento incerto de espera que pode perdurar por meses ou anos, o que acaba por acarretar uma insegurança que se torna muitas vezes, difícil para ser elaborada pelo casal.

Essa espera vivida pelos pais adotantes é angustiante devido ao medo de chegar no final de semana sem conseguir uma criança; medo da criança ter alguma doença ou que morra em suas mãos, medo de não ser amado ou de não conseguir amar o filho, medo de não ser boa mãe e outras fantasias que se acumulam nesses momentos.

A adoção para a mãe não significa apenas ter um bebê para cuidar. Essas emoções devem ser elaboradas, pois podem vir a influir negativamente sobre os sentimentos dos pais em relação ao bebê.

Casos em que a esterilidade é comprovada, isso pode trazer uma ferida narcísica de difícil aceitação. pois o indivíduo se vê privado de dar continuidade à sua vida através do filho. Nos casos de pais que buscam a adoção para tentar substituir a morte de um filho, pode ocorrer em uma relação hostil , uma vez que incansavelmente a criança simboliza aquilo que não está presente.

Segundo Brinich, apud Berthoud. (1999) o autor ressalta que para a mãe adotiva a questão de “ter ganho um bebê” e “não ter tido um bebê”, pode trazer implicações na representação que ela fará de si mesma e da criança adotiva, pois a mãe biológica pensa na criança como parte dela e a mãe adotiva vê a criança com parte de outra pessoa.

A mãe biológica envolve a criança, com uma grande carga de sentimentos, o que para a mãe adotiva constitui-se uma dificuldade, pois a criança a faz lembrar de sua “ incapacidade”...

Os pais adotivos com conflitos epidianos não ressalvadas, sentem-se como se tivessem roubado a criança de outra pessoa, e apresentam medos de que seus filhos os deixem. Expressam esse medo primitivo impedindo a criança de ficar com outras pessoas, o que acarreta dificuldades de permitir que a criança vivencie experiências normais de separação, como, ir à casa de um coleguinha brincar ou mesmo dormir fora de casa.

A fantasia de perda e o medo de que a criança abandone os pais adotivos faz com que estes tornem-se permissivos, demonstrando grande dificuldade em impor limites, esses medos são acompanhados por sentimentos inconscientes de culpa.

É comum os pais adotivos apresentarem a “fantasia do roubo”, pois têm medo que os pais biológicos exijam a devolução da criança. Isso ocorre pelo temor correspondente ao mundo fantasmático.

A família adotiva por não poder vivenciar o narcisismo questão que é sempre reforçada na família biológica, tende a compensar esse fato de modo que ao negar a adoção afirmando que são uma família biológica, dispensa a importância dos verdadeiros pais.

Muitos pais adotivos temem que a família biológica interfira no relacionamento dos filhos adotivos, outros, já pensam de forma diversa procuram os pais biológicos no momento de ajuda aos adotados. Para que isso aconteça os pais adotivos tem que ser muito bem resolvidos.

Falar com a criança e partilhar os seus sentimentos, faz com que os problemas sejam resolvidos com maior tranqüilidade, pois, quando o tabu se instala surgem os distúrbios de adaptação e emocionais.

É importante que os pais estejam preparados para lidarem com alguma decepção que possa surgir frente á criança, pois não existe um filho adotivo que vá com “selo de garantia”, como também
não há " selo de garantia" para o filho biológico, concluindo,  não existe uma adoção garantida, como não existe uma produção biológica garantida, porém, para as relações parentais serem  " satisfatórias" é essencial que os pais se encontrem preparados para aceitar uma criança  e simplesmente amá-la incondicionalmente.

Mônica Leite da Silva (CRP 06/70777)
Psicóloga da Freixo Clínica

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